sexta-feira, 22 de abril de 2011

... E Cabral não descobriu o Brasil

A travessia havia levado quarenta e quatro dias quando foram avistados os primeiros sinais de terra. As doze (a décima terceira havia naufragado semanas antes) caravelas que compunham a frota do fidalgo Pedro Álvares Cabral avistaram um monte “mui alto e redondo” no dia 22 de abril. No dia seguinte, um batelão comandado por Duarte Coelho desceu à terra, encontrando dezoito homens “pardos, nus, com arcos e setas nas mãos”. O contato foi pacífico e esses dias do ano de 1500 entraram para a historiografia oficial como o Descobrimento do Brasil.
Pedro Álvares Cabral
Acontece que a esquadra de Pedro Álvares Cabral não foi a primeira a aportar em território que só séculos depois seria conhecido como Brasil. Outras expedições, portuguesas, espanholas e segundo algumas teorias mais mirabolantes fenícias, já teriam chegado por aqui.
Segundo alguns pesquisadores os fenícios, alguns séculos antes de Cristo, teriam aportado e mantido colônias no litoral nordeste do Brasil. Esses pesquisadores dizem ter encontrado muralhas, pregos de metal e barcos de madeira fossilizada que comprovariam tal questão. Essas colônias teriam entrado em decadência com as Guerras Púnicas, conflito entre Cartago, uma poderosa colônia Fenícia e Roma, entre os séculos III e II a.C. É grande a possibilidade que os fenícios, hábeis navegadores tenham feito a circunavegação da África no século V a.C., portanto cerca de 2000 anos antes de Vasco da Gama. Agora, não há comprovação e consenso da presença deles no Brasil e poucos historiadores aceitam tal fato.
Duarte Pacheco Pereira
Dois anos antes da expedição de Cabral, o rei português D. Manuel I enviou o navegador Duarte Pacheco Pereira para explorar o Mar Oceano (o Atlântico) ao sul da rota percorrida por Cristóvão Colombo seis anos antes. A terra encontrada por Pacheco é descrita como rica em uma madeira avermelhada chamada pau-brasil... Essa missão era secreta, já que não se sabia exatamente a localização das terras em relação ao Tratado de Tordesilhas, que “dividiu” o mundo entre Portugal e Espanha. Se Portugal tomasse posse de terras que pelo tratado pertenceriam à Espanha, poderia haver uma crise diplomática.
Assim, com as informações de Duarte Pacheco, o retorno da expedição de Vasco da Gama às Índias, chegou-se à conclusão que as terras de fato seriam de Portugal. Então, a expedição de Cabral (que era um fidalgo e não um navegador), que iria para estabelecer feitorias nas Índias, faria uma parada nessas novas terras “descobertas” por Duarte Pacheco.
Meses antes da partida de Cabral, um navegador espanhol, que havia estado na primeira viagem de Colombo, navegou pelo litoral nordestino. Em janeiro de 1500, Vicente Yáñes Pinzón alcançou ou o litoral do Ceará ou o de Pernambuco (não há consenso entre os historiadores).
Assim, não podemos pensar Cabral como o primeiro europeu a aportar por essas terras (menos ainda como “descobridor”. A historiografia tem diversas informações sobre outros navegadores que aqui estiveram antes da viagem de abril de 1500. Seu “mérito” reside no fato de que colocou essas terras no contexto do colonialismo europeu; antes dele, o “Brasil” permaneceu secreto e fora do mapa-mundi.
A oeste da Irlanda, Hy Brazil
Antes de encerrar, um ponto interessante, e desconhecido do grande público. Sempre que pergunta-se a origem do nome Brasil, é dito que é graças à árvore de madeira vermelha abundante no litoral. A origem pode ser outra, ou uma coincidência de duas explicações.
Na Europa medieval havia uma lenda, ligada às tradições de São Brandão, santo irlandês do século V, de uma ilha abençoada, localizada no meio do Mar Oceano. Essa ilha era chamada de Hy Brazil, ou Ilha de Brazil. Alguns mapas medievais inclusive, desenham a tal ilha mitológica...

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